Os soldados não trespassaram apenas as mãos de Jesus, mas também os seus
pés; e a lança do seu furor trespassou ainda o lado e, até ao fundo, o sagrado coração, já trespassado pela lança do amor.
«Feriste-me o coração, minha irmã e minha noiva, feriste-me o coração!»
(Cant 4,9) Ó Jesus amantíssimo, tendo-Vos a vossa esposa, vossa irmã,
vossa amiga ferido o coração, era também necessário que os vossos
inimigos vo-lo ferissem? E vós, seus inimigos, que
fazeis? Se o coração dulcíssimo de Jesus já está ferido - ou antes,
porque está ferido -, porque lhe infligis segunda ferida? Ignorais pois
que, à primeira ferida, o coração se extingue e se torna, de certa
maneira, insensível?
O coração do meu dulcíssimo Jesus morreu porque foi ferido; uma ferida
de amor invadiu o coração de Jesus nosso Esposo, invadiu-o uma morte de
amor. Para quê segunda morte? Mas «forte como a morte é o amor» (Cant
8,6); mais ainda, ele é na verdade mais forte
que a própria morte. [...] Vede como o amor, que habita o coração e o
mata com uma ferida de amor, é forte; e não o é apenas o do Senhor
Jesus, mas também o dos seus discípulos.
Foi assim que foi ferido e que morreu o coração do Senhor Jesus, exposto
à morte todo o dia, tratado como ovelha para o matadouro (Sl 43, 23).
Entretanto, sobreveio-Lhe a morte corporal, que triunfou durante algum
tempo, mas a fim de ser vencida para toda a
eternidade.
(São Boaventura)
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