Debrucei-me um pouco da janela. […] O sol começava a levantar-se. Uma
paz muito grande reinava sobre a natureza. Tudo começava a despertar, a
terra, o céu, os pássaros. Tudo, pouco a pouco, começava a despertar sob
as ordens de Deus. Tudo obedecia às suas leis
divinas, sem queixas nem sobressaltos, suavemente, com mansidão, tanto a
luz como as trevas, tanto o céu azul como a terra dura coberta pelo
orvalho da alvorada. Que bom é Deus!, pensei. Há paz em tudo, exceto no
coração humano.
Delicada e suavemente, Deus ensinou-me também, nessa madrugada doce e
tranquila, a obedecer; uma grande paz encheu a minha alma. Pensei que só
Deus é bom, que tudo é ordenado por Ele, que nada do que os homens
fazem ou dizem tem importância, e que, para mim,
só uma coisa deve haver no mundo: Deus. Deus, que tudo vai ordenar para
o meu bem. Deus, que faz que a cada manhã o sol se levante, que faz que
a geada derreta, que faz que os pássaros cantem, e que transmuta as
nuvens do céu em mil cores suaves. Deus, que
me oferece um cantinho nesta Terra para orar, que me dá um cantinho
onde posso ficar à espera daquilo em que ponho a minha esperança.
Deus, que é tão bom para comigo, que, no silêncio, me fala ao coração e
me ensina aos poucos, talvez em lágrimas, sempre com a cruz, a
desligar-me das criaturas; a não procurar a perfeição a não ser n'Ele.
Que me mostra Maria e me diz: «Eis a única criatura
perfeita; nela encontrarás o amor e a caridade que não encontras junto
dos homens. De que te queixas tu, Irmão Rafael? Ama-Me, sofre comigo;
sou Eu, Jesus!
São Rafael Arnaiz Barón
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