Da confiança em Deus no conhecimento das nossas misérias


Não somente a alma que conhece a sua miséria pode ter uma grande confiança em Deus, mas nem mesmo pode ter uma grande confiança sem conhecer a sua miséria, porque este conhecimento e confissão da nossa miséria conduz-nos naturalmente para Deus. É por isso que os grandes santos, como Jó, Davi e outros, começavam as suas orações pela confissão das sua miséria e indignidade, de maneira que é belíssima coisa o reconhecer-se pobre, vil, abjeto e indigno do comparecer à presença de Deus.
Esta palavra tão célebre dos antigos: Conhece-te, mesmo que se entenda da grandeza e excelência da alma para a não aviltar e profanar por coisas ilegais da sua nobreza, refere-se também ao conhecimento da nossa indignidade, imperfeições e misérias, sendo certo que, quando mais miseráveis nos reconhecermos, tanto mais confiaremos na bondade e misericórdia de Deus. Porque entre a misericórdia e miséria há uma ligação tão estreita, que uma se não pode exercer sem a outra. Se Deus não tivera criado o homem, seria imensamente bom; mas não seria atualmente misericordioso, porque a misericórdia se exerce para com os miseráveis. Desta forma bem vedes que, quando mais nos reconhecemos miseráveis, tanto mais ocasião temos de confiar.
A desconfiança de nós mesmos provem das próprias imperfeições; o melhor é desconfiarmos de nós mesmos; mas isto de nada serviria se não tivéssemos toda confiança em Deus e não esperássemos da sua  misericórdia.
(São Francisco de Sales)

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