“Bem-aventurados os misericordiosos…”

Há três tipos de homens misericordiosos. Os primeiros dão os seus bens para complementar, com o que lhes é supérfluo, a penúria dos outros. Os segundos distribuem todos os seus bens e, para eles, daí por diante, tudo fica em comum com os outros. Quanto aos terceiros, não somente dão tudo, como também ‘se dão a si mesmos totalmente’ (cf. 2Co 12,15) e entregam-se pessoalmente aos perigos da prisão, do exílio e da morte, para tirar os outros do perigo em que estão a suas almas. São pródigos de si mesmos, porque são ávidos dos outros. Receberão a recompensa desse amor: ‘Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos’ (Jo 15,13). Tais são esses príncipes gloriosos da terra e servidores do céu de quem hoje ─ depois de longas privações ‘da fome, da sede, do frio e da nudez’, de muito duras penas e perigos pelos ‘seus compatriotas, pagãos e falsos irmãos’ (cf 2Co 11,26-27) ─ celebramos a morte magnificamente vitoriosa. A tais homens aplica-se bem esta frase: ‘Os seus feitos não serão esquecidos’, porque eles não se esqueceram da misericórdia. Sim, aos misericordiosos ‘na partilha foram destinados lugares aprazíveis e é preciosa a herança que lhes coube’ (cf Sl 15,6).

(Isaac de l'Étoile)

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