O Filho de Deus ‘é nossa carne e nosso sangue’

Realmente, que pode haver de mais útil e mais próprio, para sofrear nosso orgulho e arrogância espiritual, do que considerar muitas vezes como Deus Se humilha, a ponto de tomar sobre Si a fraqueza e fragilidade humana; como Deus Se fez homem, e põe a serviço do homem Sua soberana e infinita majestade, a cujo aceno - no dizer da Escritura - ‘as colunas do céu vacilam e tremem de pavor’; como veio afinal nascer na terra Aquele, a quem os Anjos adoram nos céus. Ora, se Deus faz tanto por nós, que nos incumbe fazer de nossa parte, para realizar a Sua vontade? Com quanta alegria e prontidão de espirito não devemos, pois, amar, abraçar, e cumprir todos os deveres que dos impõe a humildade!

Devem os fiéis tomar a peito as salutares lições que Cristo nos dá, desde o seu nascimento, antes até de ter proferido a menor palavra. Nasce na indigência. Nasce, como (nasceria) um estranho na estalagem. Nasce em tosca manjedoura. Nasce no rigor do inverno. Eis o que relata São Lucas: ‘E quando ali estavam, aconteceu completar-se o tempo cm que devia dar à luz. E deu ‘à luz o seu Filho Primogénito, envolveu-O em faixas, e reclinou-O numa manjedoura; pois não havia lugar para eles na estalagem’. Poderia o Evangelista exprimir, em termos mais lhanos, toda a majestade e glória do céu e da terra? Não escreve, apenas, que não havia lugar na estalagem, mas que o não havia para Aquele, que de Si declarou: ‘Minha é a redondeza da terra, e Minhas são todas as coisas de que se acha repleta’. Outro Evangelista dá o mesmo testemunho: ‘Veio para o que era Seu, e os seus não O receberam’.

Levando em conta estes fatos, os fiéis devem ainda lembrar-se que, se Deus quis assumir a baixeza e fragilidade de nossa carne, foi para elevar O gênero humano ao mais alto grau de honra e dignidade. Com efeito, como prova da eminente posição e dignidade a que a bondade divina exaltou o homem, basta existir realmente um Homem que, ao mesmo tempo, é perfeito e verdadeiro Deus. Por conseguinte, podemos gloriar-nos de que o Filho de Deus é ‘nossa carne e osso’. É uma regalia que não se aplica nem aos próprios espíritos bem-aventurados, porquanto diz o Apóstolo: ‘Não assumiu a natureza dos Anjos, mas a linhagem de Abraão’.

(Catecismo Romano – I, 3º art. § 11)

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