Aridez na oração

Existem algumas almas que gostariam de sempre ser consoladas na oração. Se acontece terem um pouco de aridez, logo querem [desanimar]. Tudo isso é trapaça do demônio, que assim procura arruiná-las irremediavelmente. Sabemos que muitas almas se mantém na graça de Deus pela oração.
Hoje, porém, quero falar-lhes das fontes de onde pode nascer essa aridez. São três: o demônio, Deus, nós mesmos.

Vem do demônio quando fazemos [oração] perturbados, e quando dela nos erguemos igualmente perturbados. Que devemos fazer então? Rir-nos.
Se vem de nós porque, por exemplo, nos dissipamos em prosas e conversas, então devemos afastar [de nós tais coisas].
Vem de Deus quando, ao ir para a oração não temos devoção sensível; a alma está amargurada, mas gostaria de estar quieta, totalmente unida com Deus; nesse caso temos de nos consolar.
Se tivéssemos sempre consolações, falando dos caminhos ordinários e da providência normal de Deus, não poderíamos chegar à perfeição. O dia é composto de dia e de noite; se fosse sempre dia ou sempre noite, as criaturas morreriam e se corromperiam. Se alguém come sempre coisas de açúcar, vermes nascem em seu ventre.
Assim que devemos estar convencidos que nossa vida deve ser entremeada de consolações e de trabalhos. Como se tece o pano? Um fio perpendicular e o outro atravessado; assim o tecido de nossa vida. Os santos, que conheceram seu valor, [assim o fizeram].
Pode alguém dizer-me: “Padre, que adiante fazer oração, se a faço como se fosse uma estátua de sal?” Sim, é verdade, mas você não deve [desistir por isso].
Diga-me: não ajudam as vestes sacerdotais, episcopais e pontificais? A belas pinturas de Jesus Cristo, de Maria Santíssima? Não ajudam os preciosos ornamentos dos altares? De fato, não ajudam positivamente [a nos recolher na oração e a contemplar as coisas de Deus]? Assim também [faça] você.
(Santo Afonso de Ligório – Assim pensava Santo Afonso, Fl. Castro [trad.] p.9)

Comentários