O martírio no cristianismo primitivo

“Desde o começo do cristianismo o martírio aparece como a forma mais eminente de santidade cristã. Por isso mesmo o exemplo dos que morrem fortalece a coragem dos que lutam. Aquele que morre, derramando seu sangue por Cristo e pela Igreja já tem a garantia de salvação porque, como diz o Livro do Apocalipse II ‘lavaram suas vestes no sangue do cordeiro’ (Ap 7,13).

Esta teologia sobre o martírio vai dar origem ao culto aos mártires. Todos os que morriam por Cristo passam a ser venerados e caso sofram e sobrevivam passam a gozar de um respeito especial pela comunidade.

Além desta veneração aos mártires passam a acontecer outras medidas de caráter prático e litúrgico: Culto às relíquias e reverência às sepulturas dos mártires com as celebrações sendo feitas sobre elas; Celebração do aniversário do martírio; Composição de obras especiais narrativas, chamadas de ATAS E MARTÍRIO que são cada vez mais divulgadas e propaga das entre os cristãos. Mais tarde surgirão inclusive Atas Apócrifas. (…) O culto aos mártires dará origem ao culto dos santos em geral, ficando o costume de celebrar determinado santo no dia de sua morte.

(…)

O heroísmo de tantos mártires não apenas prova a verdade do cristianismo e ação do Espírito que faz superem o poder humano, levando seres frágeis a enfrentar a morte. O martírio não edifica a Igreja apenas pelo seu testemunho, mas possui ainda um valor redentor, pois aquele que entrega a sua vida, voluntariamente, pelo outro associa-se à obra redentora de Jesus Cristo. Clemente de Alexandria vai dizer que o martírio é a ‘plenitude da caridade’ e sobre ela é que se edifica a Igreja. Assim é que entendemos o fato da Igreja ser renovada, ainda hoje, pelo sangue de tantos mártires que se entregam por Jesus e pelo seu reino. No tempo do Império Romano as perseguições e nem os outros obstáculos enfrentados foram capazes de esmorecer a Igreja na sua caminhada. Aos poucos ela vai se estruturando como que um “Estado dentro de outro estado”. Quando, mais tarde, as estruturas do Império Romano ruírem, a Igreja será a única instituição vitoriosa à sua queda.”

(Pe. Inácio Medeiros, cssr – Caminhando pela História da Igreja, I – História Antiga)

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