Magnificat

[Evangelho de São Lucas I, 46-55]

E Disse Maria: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (v.46-47)

Porque o espírito da Virgem se alegra da divindade eterna do mesmo Jesus – isto é, do Salvador – cuja carne é engendrada por uma concepção virginal.

“Porque ele olhou para a humildade de sua serva: Todas as gerações de agora em diante me chamarão feliz” (v.48)

Aquela cuja humildade se vê, é chamada por todos com propriedade de bem-aventurada. Convinha pois que assim como havia entrado a morte no mundo pela soberba dos primeiros pais, se manifestasse a entrada na vida pela humildade de Maria.

“Porque o Poderoso fez para mim coisas grandiosas. O seu nome é santo.” (v. 49)

Isto se refere ao início do cântico, onde se diz: ‘Minha alma engradece o Senhor’. Somente aquela alma, em quem Deus se dignou fazer coisas grandiosas é a que pode engrandecê-Lo com dignos louvores.

“E sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem” (v. 50)

Passando dos dons especiais que havia recebido do Senhor para as graças gerais, explica a situação de todo o gênero humano: ‘E sua misericórdia se estende de geração em geração’. Como se dissesse: Não só dispensou a mim graças especiais aquele que é poderoso, mas também a todos que temem a Deus e são aceitos em sua presença.

“Ele mostrou a força de seu braço, dispensou os que têm planos orgulhosos no coração” (v.51)

Descrevendo o estado do gênero humano, demonstra o que merecem os soberbos e os humildes, dizendo ‘Ele mostrou a força de seu braço’. Isto é, o mesmo Filho de Deus. Assim como trabalhas com teu braço, o braço de Deus é seu Verbo, por quem fez o mundo.

“Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” (v. 52)

O que havia dito antes: ‘Mostrou a força de seu braço’ e ‘ Sua misericórdia se estende de geração em geração’ deve juntar-se a estes versículos; porque, com efeito, em toda a sucessão das gerações, os orgulhosos não cessam de perecer e os humildes de ser exaltados, por justa e piedosa disposição do poder divino.

“Encheu de bens os famintos e mandou embora os ricos de mãos vazias” (v. 53) “Acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre” (v. 54-55)

Isto é, ao obediente e ao humilde; porque o que não quer se humilhar, não pode se salvar. Chama descendência não tanto aos gerados segundo a carne mas aos que seguirão os passos de sua fé e aqueles a quem foi prometida a vinda do Senhor nos séculos.

(São Beda, o Venerável – Comentário sobre o Evangelho de São Lucas)

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