Tu tens palavra de vida eterna (ou uma confissão)

 

“Minha sede era esbraseante e eu andei longe de Vós, porque me parecíeis muito distante. Cavei minhas cisternas e me curvei para encontrar a água que fugiu de meus lábios torturados. E minha alma se fez seca e deserta, e chorou desoladamente, porque não achou alimento nem bebida, nem remédio para as suas feridas, e meu coração desesperou porque a messe florida dos meus desejos pereceu por falta das águas fecundantes.

Senhor, eu vi aterrorizado a devastação e como não teria frutos, porque tudo se ressecava e tombava.

Repreendei-me, Jesus, que bem o mereço. É verdade que não foi a Vós que busquei e á Vossa casa de eterna sabedoria, mas a mim mesmo e à casa dos meus afetos rasteiros.

Reconheço a loucura com que, longe de Vós, sonhei tolas exaltações de minha personalidade e eis que sou humilhado. Semeei a mancheias o desvario de afetos desordenados para esquecer o vosso amor cioso, e as desilusões me vieram flagelar. Procurei comer dos festins que me proibíeis, pra saciar a fome de meu coração, e senti o abismo dentro de mim. Quis inebriar-me dos licores vertiginosos do mundo para não ouvir mais a Vossa voz que me buscava como ao primeiro homem no paraíso, mas não consegui. (…)

Jesus, eu desejo salvação. Vinde pois, Senhor! Reclamo-vos com todas as minhas fibras. Vós sois o Desejado. Aquele que meus olhos procuram e meus lábios chamam e a Quem meu coração se abre para entregar-se sem mais hesitações. Como se anela o Bem verdadeiro, depois de se sentir até a última gota a amargura dos bens mentirosos! E como sois sábio, Jesus, que assim permitistes ao vosso pobre servo chorar desalentadamente o asco do mundo e do pecado, para que agora mais e mais se inflame o vulcão de vosso Desejo e a sede insaciável de vossa Posse!”

(D. Antônio de Siqueira – Elevações)

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